Crowdfunding para a Ciência

 

Por Victor Barcellos

São tempos difíceis para a Ciência no Brasil. Os cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações têm afetado pesquisas que são fundamentais para o desenvolvimento e inovação no país. Diante dessa situação, é preciso repensar seu modelo de financiamento. A importância do investimento público está no fato de que as pesquisas tenderão a estar alinhadas com os interesses comuns da nação, e não apenas interesses privados. Por outro lado, é preciso contar também com outras formas de financiamento, visto que pesquisas que envolvem estruturas como a de aceleradores de partículas não podem ser totalmente custeados pelo Estado sob o risco de se limitarem ou mesmo se inviabilizarem. Sendo assim, outros atores sociais precisam ser envolvidos no subsídio da Ciência.

Um exemplo de como isso pode ser feito é a iniciativa Entropia Coletiva de pesquisadores da UFRJ, considerado o primeiro crowdfunding científico do país. As diversas campanhas disponíveis para consulta e contribuição na plataforma explicitam a influência direta da Ciência nos diversos âmbitos da sociedade. As vantagens de ser uma plataforma digital são muitas - é possível explorar rapidamente diversas campanhas, ter informações textuais e audiovisuais sobre os projetos e fazer sua contribuição com facilidade. Dentre as pesquisas abertas para colaboração neste momento, pode-se citar a “Combatendo o Alzheimer com medicamentos para Diabetes”, que usará os recursos levantados para a compra de reagentes e manutenção dos equipamentos de pesquisa.

Iniciativas como essa são importantes não apenas porque viabilizam financeiramente as pesquisas, mas também porque aproximam a Ciência dos cidadãos em geral. Ao analisar os projetos o cidadão toma conhecimento do que está sendo feito pelos cientistas do país, e ao fazer sua contribuição atesta a confiança na relevância social daquela pesquisa e no retorno positivo para a sociedade dos resultados trazidos por ela.

O financiamento de pesquisas é um dos aspectos em que o público pode participar do processo científico, mas não o único. Segundo o conceito de ciência cidadã, é possível que cientistas não-profissionais participem de todo o processo científico, da definição do problema à análise dos resultados. E se a plataforma, ao invés de disponibilizar projetos já estruturados a receberem investimentos, permitisse aos usuários propor projetos científicos em que estariam dispostos a investir? Essa simples mudança faria com que o público se sentisse ainda mais parte da pesquisa, visto que ele mesmo a propôs.

É preciso pensar um modelo de financiamento da Ciência que seja viável e conte com a participação dos cidadãos em geral. Lutar contra os cortes é necessário, mas para que o conhecimento científico de fato se torne um bem comum é preciso que os cientistas se aproximem do resto da sociedade e deem aos cidadãos a oportunidade de colaborar. E esse não é apenas um diferencial, para a Ciência é questão de vida ou morte.