Arduino, a democratização radical da tecnologia

Por Bia Martins

Quem acompanha as notícias sobre inovações no modelo DIY, Do It Yourself ou Faça Você Mesmo, certamente já ouviu falar em Arduino, uma plataforma para prototipagem eletrônica em hardware e software abertos. Criada em 2005 pelo Interaction Design Institute Ivrea, na Itália, como uma ferramenta básica e barata para fins educacionais, a plataforma representa um grande avanço na direção da democratização da tecnologia ao possibilitar que pessoas comuns criem inovações que podem impactar positivamente em seu dia a dia.

Uma placa Arduino básica é composta por um controlador, pinos digitais e analógicos, além de interface serial ou USB, que permitem a interação com diversos outros dispositivos e ainda a conexão a um computador. A placa pode ler diversos tipos de inputs, como um sensor de luz, um botão ou até mesmo uma mensagem de Twitter, que podem ativar as mais diferentes funções como ligar um motor, acender uma luz ou publicar alguma coisa online.

As vantagens do Arduino, segundo seus desenvolvedores, são várias. Além do baixo custo e da simplicidade da programação, ele roda em diferentes sistemas operacionais – OS, Windows e Linux – e tem também grande flexibilidade. Por ser desenvolvida em hardware e software abertos, a placa pode ser aperfeiçoada a fim de atender diferentes objetivos. Assim, serve tanto para pequenos protótipos criados por iniciantes, como para projetos mais avanços desenvolvidos por programadores experientes como, por exemplo, aplicativos de IoT (Inteligência das Coisas) ou até mesmo impressoras 3D, como foi o caso da Makerbot.

Por essas características, milhares de projetos vêm sendo desenvolvidos em Arduino, com as mais diversas finalidades, por estudantes, amadores, artistas, músicos, programadores, em projetos individuais ou coletivos. Makerspaces e hackerspaces geralmente têm oficinas dedicadas à plataforma, e cada vez mais pessoas a adotam para criar os mais variados tipos de dispositivos. Para se ter uma ideia da sua popularidade, até 2013 já haviam sido vendidas 700 mil placas Arduino.

Vale destacar o potencial para iniciativas de ciência cidadã. Um exemplo interessante é o dispositivo It’s For the Birds, desenvolvido pelos makers Greg V. e Phil V. para o projeto Feeder Watch, vinculado ao Cornell Lab, a fim de monitorar as atividades dos pássaros durante os meses de inverno na América do Norte. O dispositivo consiste em um Arduino 101 embutido em um alimentador caseiro de pássaros, com dois sensores de distância infravermelhos para detectar as aves empoleiradas em uma madeira que atravessa o alimentador. Além disso, conta com um resistor para detectar a quantidade de semente no reservatório e um sensor de temperatura e umidade. Os dados são enviados ao laboratório, ajudando os cientistas a acompanharem os movimentos das variedades de aves de inverno e as tendências de sua distribuição a longo prazo.

Mais informações sobre o It's For the Birds aqui.

Um dos usos frequentes da placa em iniciativas cidadãs é para o desenvolvimento de sensores do meio ambiente, como é o caso do DustDuino, um dispositivo criado pelo Public Lab que registra a concentração de poeira em um ambiente. O coletivo Código Urbano tem um projeto de instalação desses sensores em vários pontos da cidade de São Paulo a fim de monitorar o nível de poluição do ar. O primeiro foi instalado em 2015 no Largo da Batata cujos dados podem ser visualizados pelos transeuntes através de um painel de luzes que fica afixado numa banca de jornal. O objetivo é ter dados mais confiáveis sobre a qualidade do ar na cidade, já que o único sistema de monitoramento existente, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), utiliza padrões defasados em relação aos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

DustDuino

DustDuino instalado no Largo da Batata, em São Paulo

Por fim, é importante ressaltar que as licenças, tanto de hardware (Creative Commons Atribution Share-Alike 2.5) quanto de software (GPLv2), são abertas e determinam que tudo que for desenvolvido com Arduino deve manter estas mesmas licenças, ou seja, deve continuar aberto. Com isso, todas as invenções já criadas em Arduíno estão disponíveis para serem replicadas por quem tiver interesse.

É, em síntese, a materialização de um círculo virtuoso no qual o conhecimento tecnológico tem o potencial de se expandir infinitamente, tanto pelas inúmeras possibilidades de desenvolvimento que a plataforma permite, como pela possibilidade de aperfeiçoamento e apropriação sem limites. O que ainda é mais relevante é que esse desenvolvimento não está sob o controle de grandes corporações ou instituições fechadas, mas à mão de qualquer pessoa ou coletivo que queira inventar soluções ou alternativas para os problemas que lhe afetam.

Para mais informações e para conhecer projetos bacanas, visite o site oficial do Arduino.

Documentário sobre Arduíno, com legendas em português