Em Rede

Reflexões sobre temas da cultura digital


CooLab instala infraestrutura de comunicação em Juruti Velho, no Pará

Por Thiago Novaes

A Amazônia foi centro das atenções brasileiras, e mundial, em agosto deste ano, quando o presidente Michel Temer assinou um decreto extinguindo uma reserva ambiental do tamanho da Dinamarca para permitir o avanço da mineração na região. A medida causou enorme reação contrária e, dias depois, o decreto foi suspenso.

Na mesma semana, uma equipe CooLab se dirigia à Juruti Velho, povoado fundado pelos índios Munduruku, na fronteira entre os estados do Pará e Amazonas. Desde os anos de 1980, com a chegada da mineradora norte-americana Alcoa, o território de Juruti vem sendo alvo de conflitos, trazendo inúmeros impactos ao meio-ambiente e aos seus habitantes originais, prejudicados em suas atividades econômicas tradicionais. Como não tem alta densidade populacional, Juruti Velho não possui a maior parte dos serviços de telecomunicações comerciais comuns nos grandes centros, como acesso a redes de celulares e à Internet.

O projeto de Juruti Velho foi selecionado na chamada pública nacional da CooLab para instalação de provedores comunitários de Internet. Então, entre os dias 1 e 12 de setembro, foi realizada a instalação de uma rede mesh na região, além de reuniões e práticas de formação para produção de conteúdo multimídia utilizando software livre. Com o objetivo de valorizar o conhecimento daquele território e ao mesmo tempo impulsionar o compartilhamento desses saberes em uma rede local de dados e na Internet, foram realizadas gravações de entrevistas utilizando celulares, enfocando temas como a história local contada pelos mais velhos, descrevendo os usos e formas de identificação de plantas medicinais pelas mulheres, ou ainda versando sobre projetos de desenvolvimento sustentável de cuidado com quelônios.

A imersão de dois integrantes da CooLab – Rodrigo Troian e este que vos escreve – foi possível com a articulação do professor da Universidade Federal do Oeste do Pará, Doriedson Almeida, proponente do projeto. Unindo os esforços da prefeitura de Juruti, que subsidiou a hospedagem e o transporte de lancha rápida, vencendo as duas horas diárias que separavam o centro da cidade do povoado, e da Secretaria de Educação, que apoiou indicando um profissional da prefeitura para a ligação elétrica dos roteadores diretamente nos postes públicos, bem como da Associação de Moradores ACOJURVE, parceira da iniciativa, jovens como Adrian tiveram a oportunidade de aprender a gerenciar uma rede local de dados, visando manter e ampliar a rede mesh voltada para mais de 2 mil pessoas.

 Outra colaboração fundamental partiu da Rádio Comunitária, com Josivan, seu principal articulador e locutor, que prontamente fez da rádio veículo de divulgação das oficinas de formação e da rede de roteadores. Juntos, os projetos de comunicação foram celebrados por diretores de escolas e de instituições públicas, como postos de saúde e delegacia, enquanto ferramentas fundamentais para a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos.

A CooLab prevê a continuidade dos trabalhos de instalação de infraestrutura de comunicação recebendo das comunidades e parceiros locais os recursos investidos, divididos em parcelas suaves. A proposta de micro-crédito visa garantir, ao mesmo tempo, tanto a adesão de novas comunidades à rede de provedores comunitários fomentada pela CooLab, exigindo também um compromisso com a manutenção dos equipamentos, gerando um incremento econômico e de desenvolvimento social.

Além de Juruti Velho, no Pará, outras instalações foram ou estão sendo realizadas em outras localidades brasileiras, resultado do prêmio da Mozzila Foundation, que levou a um primeiro aporte de recursos para início dos micro-empréstimos. Atualmente, a CooLab busca novas fontes de recursos e parcerias, visando se aproximar das mais de 50 propostas que chegaram via chamada pública, todas denotando o desejo de conexão e formação, e sem perspectivas de serem atendidas por serviços comerciais de comunicação. Porém, mais do que a instalação de infraestrutura, o trabalho de pesquisa da CooLab tem por objetivo uma conectividade responsável, que valoriza as tecnologias e conhecimentos já disponíveis no território onde se insere, destacando o caráter politicamente engajado do projeto, que determinou a priorização das comunidades e os atores com os quais se alia.

Soluções técnicas para conectividade são cada vez mais acessíveis e simples, mesmo em territórios ermos e de difícil acesso, mas a relação com essas tecnologias requer uma apropriação voltada para a livre manifestação cultural e criativa, onde o trabalho de formação se mostra fundamental. Juruti Velho foi a primeira das muitas comunidades a serem, de fato, fortalecidas com o acesso às tecnologias digitais em parceria com a CooLab: que venham novas as parcerias!

Post publicado originalmente em dezembro de 2017.



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