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Reflexões sobre temas da cultura digital


Liberdade para Julian Assange, pelo direito à informação

Por Bia Martins

A prisão de Julian Assange representa um grande golpe no jornalismo e na liberdade de expressão e um ataque ao direito dos cidadãos à transparência de informações de interesse público. Graças ao Wikileaks, entre outras coisas, o mundo todo ficou sabendo dos crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, que de outra forma permaneceriam ocultos. Como mostra o vídeo abaixo:

Mas não só isso. Como relata  o artigo de Russia Today, publicado em português pela Outras Palavras, muitos outros segredos militares, políticos e diplomáticos foram revelados pela organização, trazendo a público toda uma articulação de bastidores, nada éticas, do governo estadunidense. Por exemplo, vários documentos sobre a prisão de Guantánamo, implicando em sérias violações aos direitos humanos, ou documentos da diplomacia que mostram como aquele governo interfere de forma sombria nas políticas de outros países, inclusive recorrendo à espionagem.

Por tudo isso, então, sua prisão é um grande trunfo para os Estados Unidos, que pretendem fazer dele um grande exemplo e um aviso para o mundo todo: não ousem divulgar as informações escandalosas sobre nossas operações ilegais e antiéticas, que com tanto zelo escondemos do grande público, pois você pode ser o próximo.

Embora Assange seja uma figura polêmica, com críticas que vão desde suas características pessoais, por ser personalista em seu papel proeminente à frente do Wikileaks, passam pelas acusações de assédio sexual na Suécia, ainda não totalmente esclarecidas, até o vazamento de e-mails comprometedores de Hillary Clinton, que teria ajudado a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, nada disso é mais importante ou pode fazer sombra ao que sua prisão representa como grave ameaça ao direito à informação em nível mundial.

Hoje o governo estadunidense acena para a Inglaterra com um pedido de extradição e a promessa de que Assange enfrentará uma pena de até cinco anos de detenção. Mas sabemos que isso é falso, é apenas uma estratégia para conseguir recebê-lo em seu território para depois agregar mais uma série de processos judiciais e, provavelmente, prendê-lo por tempo indeterminado.

Em entrevista à Agência Pública, Kristinn Hrafnsson, diretor do Wikileaks, afirma que Assange pode enfrentar décadas de prisão nos EUA. Ele alerta também para o fato de que, em síntese, a ação do Wikileaks de divulgar informações de interesse público, desagradando governos, é igual a de qualquer empresa de jornalismo, por isso espera que editores, publishers e jornalistas se unam para lutar contra sua prisão. Gleen Greenwald , editor de The Intercept, argumenta na mesma linha: o que Assange fez em colaboração com Chelsea Manning para a divulgação de informações secretas do governo estadunidense é o que jornalistas investigativos fazem a todo momento: identificar boas fontes e ajudá-las a divulgar dados relevantes. A crônica de Natalia Viana, na qual conta como conheceu Assange e trabalhou para publicar no Brasil informações obtidas pela organização, esclarece bem como é o método de trabalho do Wikileaks, que inclui a parceria com orgãos de imprensa na seleção e na publicação das informações.

O fato é que hoje, como lembra Slavoj Zizek, só a mobilização dos cidadãos poderá libertá-lo, pois na verdade os grandes veículos de comunicação em todo mundo, com poucas e louváveis exceções, ao invés de formar fileira ao seu lado, reconhecendo que essa ameaça atinge a liberdade de imprensa como um todo, está buscando se afastar de seu caso utilizando sua estratégia preferida: omitindo sua importância, deixando de falar sobre o assunto. Se isto prevalecer e se não agirmos, todos perderemos e muito. Pois voltaremos a um estágio anterior, quando os segredos de estado permaneciam ocultos do grande público por décadas, até não terem mais nenhuma relevância.

A Wikileaks criou uma plataforma para agregar vários tipos de apoio desde doações para seu fundo de defesa até pequenas ações que ajudam a combater as falsas informações propagadas com o objetivo de enfraquecer tanto a organização, quanto a defesa de Assange. Para colaborar, acesse aqui.

Post originalmente publicado em abril de 2019.



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