Por Bia Martins
Nos tempos em que vivemos, de crise sanitária, política e econômica, é preciso mais do que nunca pensar em futuros possíveis. E, para isso, ainda não foi inventado nada mais potente que os livros, suas histórias e ideias, para servir de insumo para a imaginação e a produção de outros mundos.
No entanto, em grande medida, as publicações ainda estão fechadas pelas restrições de propriedade intelectual, com circulação bem limitada. Soma-se ainda o fato de que estamos em pandemia, portanto com receio de andar por livrarias ou bibliotecas. Por tudo isso, é muito bom saber que existem iniciativas voltadas à ampla circulação de obras que fazem pensar o momento presente. Neste post vamos apresentar dois projetos brasileiros com esse objetivo: a Editora Fi e a Editora Monstro dos Mares.
A Editora Fi publica textos acadêmicos como coletâneas, monografias, dissertações e teses que tenham padrão de excelência. As obras podem ser baixadas gratuitamente mas, se houver interesse, também é possível encomendar sua impressão. Todos os livros são protegidos com a licença Creative Commons 4.0 Atribuição-CompartilhaIgual CCBY-SA. O que quer dizer que é permitida a adaptação a partir do texto original, mesmo para fins comerciais, desde que seja atribuído o crédito de autoria e que as obras derivadas mantenham a mesma licença.
Entre os trabalhos acadêmicos publicados, vale mencionar Ética e Inteligência Artificial: da possibilidade filosófica de Agentes Morais Artificiais, de Paulo Antônio Caliendo Velloso da Silveira, um tema muito atual que precisa ser discutido. Outro título que merece destaque por sua originalidade é A história do livro na Amazônia: da escrita em pedra à tela do computador, organizado por Raimunda Dias Duarte, Valdir Heitor Barzotto, Deusa Maria de Sousa e Joyce Otânia Seixas Ribeiro. Ou ainda Epistemologias do Extremo Sul, organizado por Ananda da Luz Ferreira, Gilson Brandão de Oliveira Junior, Jéssica Silva Pereira e Maurício de Novais Reis.
Já a Editora Monstro dos Mares, em atividade desde 2012, tem a proposta de oferecer publicações de referência a baixo custo, que possam contribuir na formação de pessoas interessadas num modo de compreensão de mundo autônomo, libertário, não-binário e anárquico. Seu foco é em epistemologias dissidentes como teoria queer, feminismos, giro descolonial, anticivilização, cultura hacker e outros. Para ajudar a sustentar o projeto existe uma rede de apoio com várias formas de contribuição. Uma delas é a campanha recorrente no Catarse, que oferece prêmios aos colaboradores.
Aqui sem dúvida encontramos os textos mais provocativos. Um deles é o zine Sobre o fenômeno dos trabalhos de merda, de David Graeber, por apenas R$ 1,00. Outro é Viver como se o mundo estivesse acabando, de Margareth Killjoy, por R$ 3,30. Ou ainda Vício Tecnológico, de Chellis Glendinning, por módicos R$ 5,00.
Ah, e tanto a Editora Fi como a Monstro dos Mares aceitam originais para análise. Taí uma oportunidade de colocar seus textos na roda.
Esses são alguns exemplos de projetos que fazem com que as ideias se propaguem e cheguem a um número maior de pessoas. Como sabemos, as ideias não são um bem rival, isto é, ao compartilhar uma ideia com alguém, eu não perco nada, ao contrário, na verdade a multiplico e fortaleço. Então é muito bom saber que essas iniciativas existem e torcer para que inspirem muitas outras. E vida longa e próspera para todos elas!

Deixe um comentário